segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os Pseudointelectuais Recifenses

Em Recife, nas rádios, nos bares, nas esquinas, nas casas de shows de periferia, a música que toca é o brega. Aliás, o tecnobrega. Ou melhor, as duas modalidades. E como não poderia deixar de ser, quem ouve esse tipo de música, sofre preconceito da nossa brilhante classe média, a intelectulizada, a cult. O ponto central, para esses que se acham mui inteligentes, é: não se 'misturar', isto é, não frequentar os mesmos espaços do povão, da massa, da ralé. Eles já inventaram até uma bandinha, a Faringes da Paixão, que toca, apenas pra eles mesmos, as mesmas músicas dos subúrbios. Mas é diferente, ora, ora!, o ingresso é duas vezes mais caro, e as casas que cedem o espaço, são do naipe do Bar Burbuinho ou a boate Downtown, dois locais adorados pelos pseudointelectuais de plantão.

Pois é sobre os últimos que vou tergiversar um pouco agora, traçar um pequeno perfil dos tipos mais fáceis da cidade. Fique esperto, amigo!, corra, Lola, corra, porque no geral eles nos troubam o sossêgo com suas lorotas.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Pseudointelectual Los Hermanos - O pseudointelectual Los Hermanos é uma praga, está em todos os lugares, é a espécie mais fácil do gênero. Você não pode sentar num boteco e pedir, com toda gentileza, um sambinha clássico, Noel Rosa na vitrola!, que lá vem o chato:"Bota Los Hermanos aí!". Acha pouco, e ainda cantarola:"E até tem que me ver, lendo jornauuuuu, não fila do pão..." Um saco! Ou então, a bela donzela, cheia de formosura, mas histércia cantando:"Quem sabe o que é ter e perder alguém". Pense num aperreio.

Pseudointelectual 'Cena Pós-Mangue' - Para esse tipo de pseudointelectual, ou pseudo cult, como queira, só existem as bandinhas da moda de Pernambuco. Desde que Chico Science caiu nas graças da crítica e foi alçado à categoria do 'figurões' da música brasileira, que ele só enxerga o que se faz aqui. Pink Floyd? Não, não presta. Toca Eddie, please!, é o que ele diz. B. B. King? Ouxi!, que nada, deixa eu ouvir Academia da Berlinda. Bob Dylan? Pra quê?, bota China pra rolar. Um verdadeiro rebuceteio de vida.

Pseudointelectual Tropicália - Um horror, meu amigo, um horror. Os que se encaixam nesta infâme categoria são de tirar a paciência de um monge tibetano. Caetano pra lá, Gil pra cá, Mutantes acolá... Tirando três músicas clássicas de cada grande artista desses, eles não sabem mais de nada. Mesmo assim ainda ficam tagarelendo, revolução musical nisso, inovação também disso, pioneirismo naquilo. Uma agonia!

Pseudointelectual Anarquista - Esse é o tipo mais chato de pseudointectual. O falso culto é, por definição, pedante. Mas aqueles que se classificam como 'Anarquistas, o são em dobro. Eles trazem nas fuças a arrogância de quem se acha a vanguarda intelectual da humanidade, os salvadores do mundo. Coisa feia de fazer vergonha a Bakunin! É capaz de uma gazela apaixonada chamar um marmanjo desses para o cinema e ele responder:"Tá bom, eu vou. Mas a gente só decide para qual cinema ir no meio do caminho, para nos desapegarmos de qualquer deliberação autoritária..." Vôte, camarada, tô fora.

Dito isto, deixo aqui o meu pequeno estímulo: contribua você também com essa singela lista. Poderás tirar muitos ouvidos de apuros.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Eu acredito em Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Fada do Dente e em jornalismo isento, imparcial e objetivo.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O Manifesto - Porque o Ociólogo é o Flâneur do Século XXI

Ociólogos do (in)mundo uni-vos!

Em defesa da masturbação acadêmica, pois é tudo o que nos resta;

A favor da criação de um hipermercado de teorias sociais;

Em prol da implementação de mais piadas para nossa categoria;

Em proveito da escolha de Malinowski, Calígula e Tacos como os nossos padroeiros;

Em defesa da criação de bares que contemplem todo o corpo, e não apenas o Bigode e o Cavanhaque;

Pela aquisição de esteiras, redes e afins, ao invés de bancas durissímas;

Em prol da emancipação docente, tal qual nos brindou a cadeira de Antropologia;

Por fim, para decretar o fim do negócio (leia-se: negação do ócio):
NEGÓCIO É O CARALHO!

Escrito por Renato Ribalta.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

As minhas críticas são repetitivas, porque vossos erros são repetitivos. E só.

Querela Amorosa Pós-pelada

Acabou a pelada (pelada aqui entendida como o velho hábito, que os homens têm, de jogar futebol com seus congêneres, que fique bem claro). O sujeito, que fez uma apresentação digna de Creedence Clearwater, um dos piores futebolistas que já vestiram a camisa do glorioso Santinha ao longo de sua história, deixa o certame com a pose de um Ronaldinho Gaúcho nos tempos áureos do Barcelona. O boleiro sai com a gargante seca, ardendo em sede, capaz de beber um rio São Francisco de águas caudalosas para se saciar. Mas, se na saída ele tem como opções o tal rio de águas vultuosas (e deliciosas!), um suco de frutas bem doce, uma coca-cola ou uma cerveja gelada, daquelas bem geladas mesmo, ele, sem medo de errar, escolhe a cerveja. Depois, o ilustre atleta pode se lambusar em copos e mais copos d'água, mas escolhe primeiro a cerveja.

Novidade, é verdade, eu não disse nenhuma. O que surpreende, apenas, é o espanto da companheira de Silva, companheiro de peladas às segundas-feiras e exercedor do ofício de garçom nos demais dias da semana, ao ver a tal cena. O coitado, que pena, mal tinha bebericado o primeiro copo do precioso líquido, quando sua amada desponta no recinto, e, histérica, grita: "Já estás enchendo a cara, cabra safado?!". Cena triste, amigo, agradeça às suas divindades por não tê-la visto.

A gazela, com o dedo em riste, dizia-lhe os maiores desaforos; o mancebo, não deixava por menos: retrucava com a mesma profundidade as insolências da amada. A esta altura, todos ao redor, já formavam plateia para a briga inusitada. Ela cuspia perdigotos de ira, ele, de cevada. Ela perguntava ao norte, ele respondia ao sul. E, sabe-se lá como, os pombinhos se entendiam - ou desentediam, dado que estamos tratando da famosa dê-erre, D.R., ou mais extesamente, discussão de relacionamento, como queira.

As moças talvez não entendam o quão sagrado é ato de jogar futebol para um rapaz. Se ela apenas estivesse chateada, vá lá; mas não: tinha de ir ao encontro de seu 'hômi ' para dispara-lhe mal-dizeres às fuças. Coisa feia, moça, coisa feia. Esse tipo de coisa se faz em casa, entre quatro paredes, de preferência dentro de vossa alcova, onde o desfecho sempre fica mais perto de um final feliz. Aqui, mais uma vez, nenhuma novidade, é a velha sabedoria popular: roupa suja se lava em casa.

A discussão se estendeu tanto que o casal foi desenterrar chifres de não sei qual era geológica, coisa tão longíqua que nem mesmo um dos amigos mais íntimos do cabra lembrava. E acabou, por fim, tornando-se enfadonha e os espectadores, paulatinamente, se dispersaram. Menos eu que ficava por ali, sorrateiro, prestando atenção às mínimas moviemtações.

E foi numa dessas bisbilhotadas minuciosas que eu percebi Seu Mauro, o dono do estabelecimento etílico onde o nosso amigo trabalha, fazendo sinceros movimentos com a cabeça, em sinal de desaprovação ao que estava acontecendo. Foi quando eu cheguei mais perto, e ele, depois de suspirar, pergunta exclamativamente para si mesmo:

- Como é que eu fui botar uma trepeça dessas pra trabalhar comigo?

Aí não, moça!, ameaçar o ganha-pão do nosso rapaz já é demais! Se ele for demitido, quem há de nos servir e fazer as vezes de analista na alegria e na tristeza, na tristeza das nossas querelas amorosas?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Quase uma crônica para um ano que está quase começando

Todo mundo sabe que é assim, reveillón mesmo, no Brasil, só depois do carnaval. Não adianta acender vela, fazer reza a santo, prometer promoção ou aumento de salário: nada disso surte efeito no brasileiro. No hiato entre a virada de ano e a festa momesca, fica todo mundo ali, devagarinho, na maciota, levando a sério aquela velha Filosofia da qual nos fala o Ascenso Ferreira.
Em Recife, dios mío!, a situação é ainda mais aguda. Não há nada que vá para frente com força e com vontade, nem mesmo a felicidade, meu caro Ivan Lins. As repartições públicas, com metade do pessoal de férias, levam décadas para carimbar um papel, se você precisar visitar alguma nesse período, pode se preparar para o já conhecido 'chá-de-cadeira'; o Campeonato Pernambucano começou, mas ainda não pegou fogo daquele jeito; a manifestação dos camelôs morre onde começa; a dos estudantes contra o aumento das passagens, não engrena; o protesto da sociedade civil, em relação ao aumento dos salários dos parlamentares, vixe!, esse ninguém viu.
O futebol com os amigos ainda não vingou: a famosa 'primeira pelada do ano' tem cara de ressaca. A moça que trabalha passando o jogo do bicho na Rua D. Carlos de Lima Cavalcanti, proximo à Av. Cde. Bos Vista, faz charme: "Não vou dar pro Seu Carlos agora não, o ano nem começou direito, ouxi!". Legitíssima, minha querida, sua indisposição. Até o pedinte que eu encontro na estação de metrô do Barro admite a vagarosidade, fui trabalhar esses dias não, diz ele, se todo mundo tem o direito à folga eu também tenho. Justa sua reivindicação, meu caro, muito justa, eu concordo.
A impressão que se tem, é que a cidade parece estar se espreguiçando depois de uma bela noite de sono. O único local onde se percebe uma grande movimentação é em Olinda, aos domingos, em suas inigualáveis prévias. Ali, a excitação é completa. Parece um vulcão que passou tempos adormecidos e agora prepara-se para o seu grande espetáculo.
E eu, aqui, espero ansiosamente esse momento de erupção, vulgamente chamado Carnaval, que esse ano só acontece no longíquo início de março. Uma pena.
Mas se a espera é longa, o encontro há de nos recompensar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Explicações preliminares sobre a reabertura deste blogue

O domínio ociologosmexidos.com foi criado em fins do ano de 2008, pelos alunos de licenciatura em Ciências Sociais ingressados na UFPE nesse mesmo ano, com o intuito de reunir as lorotas extra sala de aula desses distintos estudantes e, de quebra, algumas informações acadêmicas úteis a todos.

Acontece que o tempo passou, o blog foi, aos poucos, sendo deixado de lado e, se eu disser que sei o motivo, estou mentindo. Ficou por ali, tristonho, andando nas penumbras do ciberespaço. Ninguém se lembrava dele, ninguém tocava no seu nome. Até que este que ora vos fala e Renato, um dos mais brilhantes ociólogos que a UFPE já viu surgir, tivemos a idéia de reativá-lo.

A iniciativa surgiu da necessidade de se ter um mar internético, um espaço aconchegante, onde os dois rapazes supracitados pudem-se desaguar suas mal traçadas linhas. Isto vinha sendo feito em alguns blogs parceiros etílicos-literários, como o foihj.blogspot.com, o manifestoidiotes.blogspot.com ou até mesmo o semcadernos.wordpress.com.

O que, admita-se, era uma pena. Dado que Castanha e Pássaro Bege vem mandando muito bem nas suas crônicas e causos no 'foihj'; Frank, por sua vez, vem fazendo estupendas manifestações no 'Manifesto Idiótes'; e Renan estava... Bem, Renan ainda não ocupou seu espaço de maneira devida, o que não tira o caráter usurpante que minha pessoa e a de Renato faziam no 'Sem Cadernos'.

Pois bem, agora é oficial: o blog está (re)aberto. Postaremos aqui nossas crônicas e contos. E ai daquele que se puser a reclamar: veio até que porque quis. Digo-vos, desde já, que não apagaremos os posts de outrora para preservar a memória virtual dos Ociólogos Mexidos e que aceitamos, de muito bom grado, um layout bem bacana, para por nesse blog bem bacana.

É só. Aguardem as próximas postagens.