quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Hiato

Entre uma parada de ônibus e outra, corro, corro para chegar mais rápido, sem atraso. Entre um dia e outro, durmo, durmo para suportar o peso do dia que vem. Entre um trago de cachaça e outro, fumo, fumo para aquecer a garganta. Entre uma crônica e outra, leio, leio para me distrair com os grandes. Entre um gozo e outro, respiro, respiro para aliviar as batidas do coração. Entre uma conversa e outra, me calo, me calo porque o silêncio também é sabedoria. Entre uma dor e outra, sorrio, sorrio porque não só de tristezas se faz a vida. Mas entre uma vez que te vejo e outra, me diz o que eu faço, me diz o que eu faço quando de ti sou apartado!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Voyeur Incomum

Voyeur incomum, estirado no chão, no chão da terra que leva uma exclamação de beleza a cada pronúncia, contemplava a dança das nuvens. Doce e lenta dramaturgia, palco das minhas fantasias. Compasso ritmado de moléculas de água condensada, que quando se precipitarem, virarão chuva, aqui ou lá. Mas, por ora, enquanto não despencam do céu, são minha distração, desenham corpos, desenham caras, desenham cenários. E me levam com elas, para bem longe. De resto, lembro apenas da inveja do mar, que se atirava violentamente contra as pedras. Voltava, se preparava, e de novo. Fazia barulho ensurdecedor. Não se conformava, frente a seu gigantismo e imponência, não ter a minha atenção. Tentava, em vão, dissuadir-me de enxergar a minha amada no espetáculo das nuvens.