Todo mundo sabe que é assim, reveillón mesmo, no Brasil, só depois do carnaval. Não adianta acender vela, fazer reza a santo, prometer promoção ou aumento de salário: nada disso surte efeito no brasileiro. No hiato entre a virada de ano e a festa momesca, fica todo mundo ali, devagarinho, na maciota, levando a sério aquela velha Filosofia da qual nos fala o Ascenso Ferreira.
Em Recife, dios mío!, a situação é ainda mais aguda. Não há nada que vá para frente com força e com vontade, nem mesmo a felicidade, meu caro Ivan Lins. As repartições públicas, com metade do pessoal de férias, levam décadas para carimbar um papel, se você precisar visitar alguma nesse período, pode se preparar para o já conhecido 'chá-de-cadeira'; o Campeonato Pernambucano começou, mas ainda não pegou fogo daquele jeito; a manifestação dos camelôs morre onde começa; a dos estudantes contra o aumento das passagens, não engrena; o protesto da sociedade civil, em relação ao aumento dos salários dos parlamentares, vixe!, esse ninguém viu.
O futebol com os amigos ainda não vingou: a famosa 'primeira pelada do ano' tem cara de ressaca. A moça que trabalha passando o jogo do bicho na Rua D. Carlos de Lima Cavalcanti, proximo à Av. Cde. Bos Vista, faz charme: "Não vou dar pro Seu Carlos agora não, o ano nem começou direito, ouxi!". Legitíssima, minha querida, sua indisposição. Até o pedinte que eu encontro na estação de metrô do Barro admite a vagarosidade, fui trabalhar esses dias não, diz ele, se todo mundo tem o direito à folga eu também tenho. Justa sua reivindicação, meu caro, muito justa, eu concordo.
A impressão que se tem, é que a cidade parece estar se espreguiçando depois de uma bela noite de sono. O único local onde se percebe uma grande movimentação é em Olinda, aos domingos, em suas inigualáveis prévias. Ali, a excitação é completa. Parece um vulcão que passou tempos adormecidos e agora prepara-se para o seu grande espetáculo.
E eu, aqui, espero ansiosamente esse momento de erupção, vulgamente chamado Carnaval, que esse ano só acontece no longíquo início de março. Uma pena.
Mas se a espera é longa, o encontro há de nos recompensar.
5 comentários:
Pois é meu camarada, estamos nos aguardando para quando o carnaval chegar. Uma vez nele deixaremos de carregar o piano gigantesco e pesado da vida, sentaremos nos tamboretes de mômo e tocaremos as melhores valsas, árias, boleros e marchas com os dedos precisos da verdade nos teclados macios e caloros das multidões.
E tem mais samba em março do que em janeiro e feveiro, ou seja, tem mais samba no encontro do que na espera.
Renato
Não posso deixar de registrar aqui meu entusiasmo. Rosano, você escreve bem demais da conta, sô!Aprenda alguns idiomas (é fácil!) e você vai dar saltos qualitativos inconcebivelmente maravilhosos. Aprenda francês, espanhol, italiano, catalão e também o inglês. Depois, aprenda uma ou mais línguas de algum tronco completamente diferente, nagô, coreano, quechua, algo assim. Parabéns mesmo, velho! Saudações alvirrubras!
Opa, meu caro, muito agrdecido pelos elogios... E as suas suas sugestões foram devidamente anotadas. Obrigado!
curto muito seus textos... a leitura é fluida e animada... leio pensando: quanta veracidade cotidiana... consigo imaginar a moça do jogo do bixo e o mendigo do metrô... ouso dizer q consigo sentir o calor das prévias olindenses...
parabéns
Muito boa meu chapa, só um recifense que conhece a cidade em seus detalhes faz essa análise rsrsrsr Muito boa meu chapa muito boa mesmo.
Castanha
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