sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Quase uma crônica para um ano que está quase começando

Todo mundo sabe que é assim, reveillón mesmo, no Brasil, só depois do carnaval. Não adianta acender vela, fazer reza a santo, prometer promoção ou aumento de salário: nada disso surte efeito no brasileiro. No hiato entre a virada de ano e a festa momesca, fica todo mundo ali, devagarinho, na maciota, levando a sério aquela velha Filosofia da qual nos fala o Ascenso Ferreira.
Em Recife, dios mío!, a situação é ainda mais aguda. Não há nada que vá para frente com força e com vontade, nem mesmo a felicidade, meu caro Ivan Lins. As repartições públicas, com metade do pessoal de férias, levam décadas para carimbar um papel, se você precisar visitar alguma nesse período, pode se preparar para o já conhecido 'chá-de-cadeira'; o Campeonato Pernambucano começou, mas ainda não pegou fogo daquele jeito; a manifestação dos camelôs morre onde começa; a dos estudantes contra o aumento das passagens, não engrena; o protesto da sociedade civil, em relação ao aumento dos salários dos parlamentares, vixe!, esse ninguém viu.
O futebol com os amigos ainda não vingou: a famosa 'primeira pelada do ano' tem cara de ressaca. A moça que trabalha passando o jogo do bicho na Rua D. Carlos de Lima Cavalcanti, proximo à Av. Cde. Bos Vista, faz charme: "Não vou dar pro Seu Carlos agora não, o ano nem começou direito, ouxi!". Legitíssima, minha querida, sua indisposição. Até o pedinte que eu encontro na estação de metrô do Barro admite a vagarosidade, fui trabalhar esses dias não, diz ele, se todo mundo tem o direito à folga eu também tenho. Justa sua reivindicação, meu caro, muito justa, eu concordo.
A impressão que se tem, é que a cidade parece estar se espreguiçando depois de uma bela noite de sono. O único local onde se percebe uma grande movimentação é em Olinda, aos domingos, em suas inigualáveis prévias. Ali, a excitação é completa. Parece um vulcão que passou tempos adormecidos e agora prepara-se para o seu grande espetáculo.
E eu, aqui, espero ansiosamente esse momento de erupção, vulgamente chamado Carnaval, que esse ano só acontece no longíquo início de março. Uma pena.
Mas se a espera é longa, o encontro há de nos recompensar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pois é meu camarada, estamos nos aguardando para quando o carnaval chegar. Uma vez nele deixaremos de carregar o piano gigantesco e pesado da vida, sentaremos nos tamboretes de mômo e tocaremos as melhores valsas, árias, boleros e marchas com os dedos precisos da verdade nos teclados macios e caloros das multidões.
E tem mais samba em março do que em janeiro e feveiro, ou seja, tem mais samba no encontro do que na espera.
Renato

emerson disse...

Não posso deixar de registrar aqui meu entusiasmo. Rosano, você escreve bem demais da conta, sô!Aprenda alguns idiomas (é fácil!) e você vai dar saltos qualitativos inconcebivelmente maravilhosos. Aprenda francês, espanhol, italiano, catalão e também o inglês. Depois, aprenda uma ou mais línguas de algum tronco completamente diferente, nagô, coreano, quechua, algo assim. Parabéns mesmo, velho! Saudações alvirrubras!

Anônimo disse...

Opa, meu caro, muito agrdecido pelos elogios... E as suas suas sugestões foram devidamente anotadas. Obrigado!

Unknown disse...

curto muito seus textos... a leitura é fluida e animada... leio pensando: quanta veracidade cotidiana... consigo imaginar a moça do jogo do bixo e o mendigo do metrô... ouso dizer q consigo sentir o calor das prévias olindenses...
parabéns

Anônimo disse...

Muito boa meu chapa, só um recifense que conhece a cidade em seus detalhes faz essa análise rsrsrsr Muito boa meu chapa muito boa mesmo.

Castanha