segunda-feira, 27 de junho de 2011

Chamava-se Janecildestelita

Seu pai quis homenagear sua mãe. Não contente isso, quis homenagear suas tias. Até aí, nenhum problema. O problema era querer fazer issso em apenas um único nome. Podia ter feito em três ou quatro, ou, até mesmo, de outras maneiras. Mas tinha que ser em um nome. Janaína, a mãe. Neci, Cilda, Estela e Carmelita, as tias, por ordem decrescente de idade. Dessa mistura, o nome da moça: Janecildestelita.

De tudo isso, o mais impressionante era a capacidade que o pai da menina tinha em fazer contrações de nomes. Realmente impressionante!

Quando eu conheci Janecildestelita eu tinha 13 ou 14 catorzes anos, idade em que estamos ainda verdinhos, não sabemos o que queremos direito. Ela já tinha uma certa fama no interior de Pernambucano. Tocava sanfona e gaita, ao mesmo tempo, com uma habilidade incrível. Porém, o mais extraordinário era uma pessoa só, gozar de uma reputação só, mas com vários nomes.

Explico: aqueles que tinham mais afinidade com a mãe a chamavam de "Jana"; os que gostavam mais da primeira tia a apelidaram de "Necinha"; os partidários da segunda, de "Cildinha". As duas outras tias a chamavam de Jana. E assim ficava, uma pessoa, uma glória, e três nomes.

Lembrei da moça, e de sua inusitada história, porque a pouco tempo, através de notícias trazidas por minha vó, fiquei sabendo que a mulher faleceu. Morreu de pneumonia, coisa rara hoje em dia. Alguns dizem que foi maldição, olho grande, inveja. Mas deixemos isso de lado.

Como ia dizendo, lembrei da moça. Mais do que isso: lembrei de como toda a sua história me impressionava. Eu ficava boquiaberto com um nome tão grande, uma moça tão bonita, depois três nomes repartidos, um furdunço.

Mas como já foi dito, eu a conheci com 14 anos. Nessa idade, a gente ainda não tem "discernimento das coisas", como nas palavras de vovó. Não só isso, eu não sabia, por exemplo, que uma mulher impressionante, arrebatadora, dessas que deixam a gente de queixo caído, pode ter um nome curto, formado por apenas três letras e três sílabas, e se chamar Bárbara.

Apenas isso, bela e simples: Bárbara.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Crônica

A crônica, coitada, sempre foi tida como a prima pobre da literatura. Coisa boa de verdade era romance, poesia; coisa de escritor mesmo, escritor que se preze. A crônica, que quase sempre vinha nos jornais, e ajudava os escritores a ganhar umas patacas, só veio ser revalorizada com o advento da internet, tudo muito rápido, tá aqui, não tá, eu quero é ler coisa curta!

Tem que aquelas, sabe, que veem fáceis, na leveza do vento. Vamos pensar em escrevê-la, e, quando damos por nós outra vez, pronto, ela já está lá. Uma beleza de lirismo. Tá bom, exagerei. Mas fica bacana mesmo. Fica parecendo uma crônica de cajueiro ou de passarinho, como as de Rubem Braga, um rapaz que gostava de falar sobre essas coisas aparentemente frívolas. Mas digo, fica só parecendo mesmo, assim, bem de longe, e ainda contando uma boa dose de generosidade na crítica.

Outras, vilge maria!, são um aperreio. É tirar a gotinha do leite literário de uma pedra carrancuda. Puxa, rasga, prega, estica: - e o suor pingando da testa. Faz mais um pouquinho, briga com as palvras, e ela, acanhada, toma corpo, bem devagarinho. No final, é aquela coisa chocha, fraca, saco vazio não para em pé, narrativa tacanha, mesquinha.

Tem umas que eram só coisa corriqueira, notícia de jornal, que a gente teima em botar no papel e enhcer de floreios. Outras tantas, é para gente ler no ouvido da amante, como aquelas de Antônio Maria. Algumas vão nascendo com um pé na poesia, mas disse que é crônica, pronto, é crônica. Duvida? Leia "O Amor Acaba" de Paulo Mendes Campos.

Umas são meio meio conto, meio crônica, como 'A Vida Como Ela É..." de Nelson Rodrigues. Com outras a gente já aprende a meter carapuças no sujeito que passa na nossa frente, como as do Padre Lopes Gama. Já outras, como as de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, são de uma genialidade que você custa a crer que elas são de verdade.

Outras tantas, sabe, você tá me entendendo?, são de uma pobreza incrível, sabe, a gente vai escrevendo, uma crônica que fala sobre a crônica, escassez de assunto, ausência de um bom mote, sabe, você me entendeu?

domingo, 5 de junho de 2011

Filme Roliudiano

Os filmes de Roliúde sempre despertaram meu interesse. E o que mais chamava a minha atenção era a facilidade. Na tela prateada da ilusão, tudo era muito fácil, demasiado simples, transcorria sem aperreios. Se você, na mão, tinha uma palito de fósforo, mas não tinha uma caixinha para riscá-lo, isso não era problema. Ele podia ser acendido na parede, e na ausência de uma por perto, a sola do sapato servia perfeitamente.
No bar, restaurante ou coisa de mesmo gênero, ninguém pedia, como os meros mortais, a conta, por favor, garçom! Bastava deixar o dinheiro na mesa ou no balcão, levantar e sair, sem se preocupar com o troco. O dinheiro, por sua vez, já constituia uma imensa facilidade. Bastava por a mão no bolso, e lá estavam as notas do dólar norte-americano, verdes, vibrantes. Era do bolso, também, que brotava o cigarro, sempre avulso, que o ator principal fumava. Fumar, no caso, dar dois tragos, lembrar-se de um problema colossal, largar o cigarro no chão, e partir.
Se havia algum grande esforço, ele era só aparente, a título de dramatização. Tudo corria leve, frouxo.
Ontem, havia um palco. Nele, uma banda que tocava invarialmente forró. Ao redor do palco, pessoas, muitas pessoas, barracas que vendiam comidas juninas, cerveja, refrigerante. A certa altura da festa, ouvem-se dois tiros. Uma pessoa havia sido assassinada. A banda para de tocar o forró, as pessoas param de dançar. Todos procuram, com os olhos, o local onde havia ocorrido o fato. Logo, no meio da multidão, passam dois homens, um carregando o outro, o outro, provavelmente, já morto. As pessoas se esticam, olham. O homem que carregava o outro homem some na multidão. A banda volta a tocar o forró, as pessoas voltam a dançar. Tudo muito fácil, muito simples. Ninguém perplexo. As pessoas comem, bebem, dançam.
Do morto, no local, só a mancha de sangue no chão. Mas ninguém mais se preocupava com isso. Isso, aliás, parecia que nem tinha ocorrido, de tão afiada que era a habilidade de não se deixar abalar por um homicídio.
E eu, sufocado pela alegria leviana,cheguei à conclusão óbvia: - a banalização da violência tem um 'quê' de fime roliudiano.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Para Viver Mais

- O cigarro mata, mata mesmo.

- E só viesse descobrir isso agora?, depois de seis anos fumando?

- Não, claro que não!, mas é que só hoje a ficha caiu...

- E vais parar mesmo?

- Vou! - Joga a bituca do cigarro pela janela do carro.

- Estou gostando de ver.

- Você vai gostar de ver quando eu tiver com 90 anos de idade, vou viver muito. Parei de fumar para viver mais.

Para aumentar a expectativa de vida, largou o tabaco. Quatro anos depois, toma um susto. Na final do campeonato, seu time leva um gol, de bicicleta, no finalzinho do segundo tempo, perdendo a partida e o título. A emoção foi grande, ele nao resistiu. Caiu no chão com a mão no peito, e pensou: - como seria bom um último cigarro antes de partir.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Balada de Glorfindon

Olá pessoal estou aqui para deixar mais uma poesia para vocês espero que gostem e não deixem de comentar!

Não tem muito haver com o poema, mas é uma imagem legal


Balada de Glorfindon


Nos verdes campos de Atergion
Morava um elfo ferreiro
de nome Glorfindon
de joias um poderoso refinador.

Em um outono belo.
Por Leowyn se apaixonou.
Seu coração imortal palpitou.
E a ela seu amor entregou.

Para provar sua devoção
em terras de escuridão
Buscou um minério raro.
Azul e belo como o horizonte.

Então no fogo ardente
e no tinir do martelo pulsante
Lapidou e formou belamente
Um anel que como estrela brilhava a noite.

Em cortejo pediu à Leowyn sua mão.
E ela com um sorriso retribuiu a paixão
E na primavera posterior.
Eles se uniram formando um só.

Mas triste é o desfecho dessa canção.
Pois uma batalha ameaçou essa paixão.
Mostrando que nem os elfos podem escapar.
Das lamurias que assolam as almas.

Em uma noite de grande lua.
A carruagem elfica se dirigia para Areliária.
Mas sua viajem foi interropida
Por um assalto que culminou em batalha.

Leowyn com o barulho chorava.
Enquanto Glorfindon a espada empunhava.
Orcs ateavam chamas e atacavam com massas.
No furor de uma batalha dramática.

Até o amanhecer perdurou o combate.
Elfos e orcs encontraram a morte.
No chão havia dor e sangue.
Mas a tristeza ainda seria mais forte.

Pois ao chegar em sua carruagem
Glorfindon chorou.
Ao ver o corpo da elfa que um dia amou.
Sabor amargo em seus labios provou.

E nem a lembrança de sua paixão.
Ficou em suas mãos.
Pois o anel de Leowyn na batalha foi perdido.
Levado por orcs ou furtado pelo destino.

E desse tempo até seu fim.
Chorou nas terras elficas de Aurim
Siliencioso e tão amargo.
Glorfindon o ferreiro solitário.