Eu descobri e acho que foi a tempo, mãe e
pai, que hoje ainda é dia de rock - começo com essa famosa frase de Sá, Rodrix
e Guarabira. Começo para dizer que ainda não passou o prazo de validade, mãe e
pai, pra gente poder escutar os três acordes do Ramones, do disco de Titio
"Loco Live", que vocês me disseram que era música de doido.
Eu ainda lembro que vocês queriam que ouvisse aquele álbum chato do Araketu,
enquanto eu arrumava o quarto ou descascava o alho do almoço. Era uma barra ter
que escutar aquilo, e decorar as letras a contragosto, mas era melhor do que
reclamar e tirar o CD da vitrola - caso fizesse isso, a repressão vinha a
galope.
Esperteza mesmo era aguardar uma saída de vocês e chamar a galera pra fazer uma
"roda punk", ao som de Devotos do Ódio, no cubículo lá de casa. Numa
dessas, o aquário quebrou, aliás, nós (eu e meus amigos) o quebramos, e eu tive
que ouvir aquela ladainha repetitiva de que "no meu tempo não era
assim". Fiquem com essa vontade de voltar no túnel do tempo que eu coloco
"A verdade sobre a nostalgia", de Raul Seixas, na caixola, pra vocês
verem o que é bom pra tosse!
Rulzito, papai, que era baiano, prato cheio para teu bairrismo. Na próxima
visita é gelo, uísque e "Novo Aeon" nas alturas, topas? Se topares,
veja bem, ainda posso levar de brinde para nossos tímpanos umas músicas de
Camisa de Vênus, uma banda soteropolitana, vejas só a ironia. Eu sei que o
senhor ainda tem salvação, aleluia!, e eu não vou perder a chance, caso esse
nosso encontro aconteça, de levar algumas coisas mais legais, como Pearl Jam,
Pink Floyd, The Beatles e Joy Division.
Contigo, mamãe, o papo é mais complicado, ainda mais depois que aceitaste
Jesus, glória, aleluia!, e tudo o que não é "da igreja" é "do
mundo". Apesar desse maniqueísmo raso, eu tenho fé, aleluia again!, e
ainda guardo na memória os teus pulos ao som de Chico Science – o que já é um
bom começo, admita-se. Caetano Veloso também te agradava, e, nesse caso,
poderíamos deixar de lado o álbum "A Bossa de Caetano" para ouvir o
"Transa", que achas? E como eu sou um filho bonzinho, no final,
no apagar das luzes, já próximo do “The End” caligráfico e bonito dos filmes de
Roliúde, eu coloco o folk do álbum “Blue” de Joni Mitchell pra embalar
nossos melhores sonhos acordados. Massa, né não?
Pensem, mas pensem com carinho, pois a oportnidade de descobrir que hoje ainda
é dia de rock bate à porta de vocês. E não é o Rocky invencível de Stalone ou o
Roque assistente de palco de Silvio Santos, corta essa piada batida, papai.
Abraços.
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