terça-feira, 12 de abril de 2011

A Vida Continua Triste

O nome dele não era Sizenando, era Roberto. E talvez a única semelhança entre os dois era naturalidade de Goiás. Roberto, quase 30 anos, alguns fios de cabelos brancos e um amor para lamentar. Ele dizia, pressionando o cigarro entre os dedos médio e indicador, que não conseguia se conformar com aquilo.

Por aquilo, entenda-se a troca que Gabriela fez: deixou ele para ficar com um "infeliz", como Roberto o definia.

O "infeliz", dizia-me o desiludido, não faz café da manhã para ela, não escreve poemas, não compra bolo de chocolate, não manda torpedo sms pela manhã para alegrar o dia, não vai almoçar com sua tia chata. "Nenhuma qualidade", conclui Roberto. Não perguntei, mas, decerto, o "infeliz" também não sabia nada sobre esperanto.

"A vida tem dessas coisas, Roberto, fica tranqüilo", disse eu. "Isso não serve de consolo!", respondeu-me com voz trêmula. Um sopro e ele se desmanchava em choro.

Roberto estava certo, o que eu disse não servia de consolo. Na realidade, naquele momento, nenhuma palavra serviria de consolo. A cerveja que o embriagava era mais solidária do que as minhas palavras, ora pois. Para que falar numa situação daquelas? Tudo o que Roberto precisava ele tinha naquele momento: cigarro, álcool e alguém que ouvisse suas lamentações.

Eu me resignei ao meu silêncio cada vez mais. Um silêncio companheiro, de quem sofre junto. E me pus a pensar que, dos dias de Sizenando até hoje, passaram-se mais de cinquenta anos. E nada mudou: a vida continua triste.

Muito triste, Roberto.

4 comentários:

Renan Cabral disse...

Massa!

Anônimo disse...

Calma, calma Rosano... Calma p você e calma pra Roberto... Ainda tem jeito, não parece, mas ainda tem jeito rsrsrs

Castanha

Anônimo disse...

Agora a ficha caiu meu camarada... Agora sim a ficha caiu... Massa!

Castanha

Son disse...

Roberto, a vida pode abraçar muito mais que isto tudo.

Um brinde a você.