sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Crônica

A crônica, coitada, sempre foi tida como a prima pobre da literatura. Coisa boa de verdade era romance, poesia; coisa de escritor mesmo, escritor que se preze. A crônica, que quase sempre vinha nos jornais, e ajudava os escritores a ganhar umas patacas, só veio ser revalorizada com o advento da internet, tudo muito rápido, tá aqui, não tá, eu quero é ler coisa curta!

Tem que aquelas, sabe, que veem fáceis, na leveza do vento. Vamos pensar em escrevê-la, e, quando damos por nós outra vez, pronto, ela já está lá. Uma beleza de lirismo. Tá bom, exagerei. Mas fica bacana mesmo. Fica parecendo uma crônica de cajueiro ou de passarinho, como as de Rubem Braga, um rapaz que gostava de falar sobre essas coisas aparentemente frívolas. Mas digo, fica só parecendo mesmo, assim, bem de longe, e ainda contando uma boa dose de generosidade na crítica.

Outras, vilge maria!, são um aperreio. É tirar a gotinha do leite literário de uma pedra carrancuda. Puxa, rasga, prega, estica: - e o suor pingando da testa. Faz mais um pouquinho, briga com as palvras, e ela, acanhada, toma corpo, bem devagarinho. No final, é aquela coisa chocha, fraca, saco vazio não para em pé, narrativa tacanha, mesquinha.

Tem umas que eram só coisa corriqueira, notícia de jornal, que a gente teima em botar no papel e enhcer de floreios. Outras tantas, é para gente ler no ouvido da amante, como aquelas de Antônio Maria. Algumas vão nascendo com um pé na poesia, mas disse que é crônica, pronto, é crônica. Duvida? Leia "O Amor Acaba" de Paulo Mendes Campos.

Umas são meio meio conto, meio crônica, como 'A Vida Como Ela É..." de Nelson Rodrigues. Com outras a gente já aprende a meter carapuças no sujeito que passa na nossa frente, como as do Padre Lopes Gama. Já outras, como as de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, são de uma genialidade que você custa a crer que elas são de verdade.

Outras tantas, sabe, você tá me entendendo?, são de uma pobreza incrível, sabe, a gente vai escrevendo, uma crônica que fala sobre a crônica, escassez de assunto, ausência de um bom mote, sabe, você me entendeu?

4 comentários:

Roni disse...

Excesso de lirismo fazem a pessoas ficarem modesta (com algumas excessões, é claro), pois não acredito no contrario.rsrsrs

Roni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Castanha disse...

Massa cara, uma crônica sobre a crônica, boa crônica...

Foi Hoje! disse...

bláss! como assim? é assim mesmo...
Só discordo da pobreza!
Tua crônica sobre a crônica é "rica de sutileza". E tenho dito ;)
Massa !!!!