domingo, 5 de junho de 2011

Filme Roliudiano

Os filmes de Roliúde sempre despertaram meu interesse. E o que mais chamava a minha atenção era a facilidade. Na tela prateada da ilusão, tudo era muito fácil, demasiado simples, transcorria sem aperreios. Se você, na mão, tinha uma palito de fósforo, mas não tinha uma caixinha para riscá-lo, isso não era problema. Ele podia ser acendido na parede, e na ausência de uma por perto, a sola do sapato servia perfeitamente.
No bar, restaurante ou coisa de mesmo gênero, ninguém pedia, como os meros mortais, a conta, por favor, garçom! Bastava deixar o dinheiro na mesa ou no balcão, levantar e sair, sem se preocupar com o troco. O dinheiro, por sua vez, já constituia uma imensa facilidade. Bastava por a mão no bolso, e lá estavam as notas do dólar norte-americano, verdes, vibrantes. Era do bolso, também, que brotava o cigarro, sempre avulso, que o ator principal fumava. Fumar, no caso, dar dois tragos, lembrar-se de um problema colossal, largar o cigarro no chão, e partir.
Se havia algum grande esforço, ele era só aparente, a título de dramatização. Tudo corria leve, frouxo.
Ontem, havia um palco. Nele, uma banda que tocava invarialmente forró. Ao redor do palco, pessoas, muitas pessoas, barracas que vendiam comidas juninas, cerveja, refrigerante. A certa altura da festa, ouvem-se dois tiros. Uma pessoa havia sido assassinada. A banda para de tocar o forró, as pessoas param de dançar. Todos procuram, com os olhos, o local onde havia ocorrido o fato. Logo, no meio da multidão, passam dois homens, um carregando o outro, o outro, provavelmente, já morto. As pessoas se esticam, olham. O homem que carregava o outro homem some na multidão. A banda volta a tocar o forró, as pessoas voltam a dançar. Tudo muito fácil, muito simples. Ninguém perplexo. As pessoas comem, bebem, dançam.
Do morto, no local, só a mancha de sangue no chão. Mas ninguém mais se preocupava com isso. Isso, aliás, parecia que nem tinha ocorrido, de tão afiada que era a habilidade de não se deixar abalar por um homicídio.
E eu, sufocado pela alegria leviana,cheguei à conclusão óbvia: - a banalização da violência tem um 'quê' de fime roliudiano.

Um comentário:

Renan Cabral disse...

Grande Rosano! Interessante a percepção sobre a banalização da violência, parece que as coisas se resolvem como num truque cinematográfico mesmo. E me referi a um filme "roliudiano" na última post do Sem Cadernos... Um forte abraço!