quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Histórias de Grandeza e de Miséria 5: A bola

Era uma segunda-feira. Quando eu cheguei ao recinto, para encontrar meus camaradas, e beber, sim, não me amola, ora, ora!, a bola já estava lá. Rolava por debaixo das mesas, ia de cadeira em cadeira, traçava um percurso de rejeitada. Cada um que desse um chute, um tapa, um chega-pra-lá na bola. A bola. Por um instante, até brincamos com ela. Mas depois, ter aquilo batendo teimosamente nas cadeiras e balançando as mesas tornou-se chato. E era sempre um chute, um tapa, um chega-pra-lá na bola. A bola. Até que eu, para por fim ao pinball etílico, coloquei-a fora da calçada do bar, no meio da rua, de modo a não nos incomodar. Bem pertinho da hora de partir, quando já estávamos sendo expulsos do bar pela chuva e pela escassez de dinheiro, chega um garoto, 15 anos de idade no máximo, e me pergunta:"Ei, essa bola é tua?" Respondo:"Não". Ele, dessa vez mais empolgado, faz outra pergunta:"Tu sabe de quem é?". Eu, lacônico:"Não". O garoto, agora, explode em extase:"Urruu, então é minha!!!". Pegou a bola, saiu correndo em direção ao local onde se encontravam seus amigos, saltou, pulou, gritou. E de onde eu estava, só se ouvia os garotos dizerem:"Aê, bola nova!"; "Vamo jogar na praça!"; "Que sorte da porra, meu irmão, que sorte!"; "Agora a gente mata a secura!". A bola. A bola provou que entre a repulsa e a alegria, a linha é tênue; mostou duas faces da mesma moeda; revelou que o que para um pode não fazer diferença, para outro pode ser motivo de euforia. Numa noite de segunda-feira chuvosa, aprendi tudo isso com a simples história da bola. A bola.

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