domingo, 11 de dezembro de 2011
vácuo sonoro
domingo, 4 de dezembro de 2011
momentos mudos
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
sábado, 29 de outubro de 2011
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
sejamos sãos
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Pronome Possessivo
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Hiato
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Voyeur Incomum
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Uma rua de dedos-duros
Tempo desses, estava sentado num barzinho, nas redondezas da minha casa, tomando uma cerveja. Eu estava só, tomando uma dessas cervejas existenciais. Num dado momento, chega uma menino, com cara de contrariado, e senta na mesa em que eu estou. Pergunto o que tinha lhe deixado emburrado. Ele exclama:
- Esse negócio de igreja já encheu o saco!
Contou-me que estava indo à missa obrigado, que não queria. Mas sua vó o forçava isso. Devia ter uns 12 ou 13 anos, falava meio em tom de desabafo, meio em tom de ira. A igreja era na esquina, havia uma grande movimentação. De onde eu estava sentado eu via a igreja e a esquina oposta. O menino só via entrada da igreja.
Ele advertiu para que se eu visse uma senhora manca, de preto, assim e assado, avisasse. Na certa seria sua vó. No mesmo instante aponta na esquina oposta uma velha que preenchia todas as características passadas pelo garoto. Mando ele ir para o banheiro, e só sair sob uma segunda ordem.
A velha vem, atravessa a rua. Pára, olha, fala com duas ou três pessoas. Atravessa de volta a rua e se dirige ao bar. No bar, se dirige a mim. Trocamos cumprimentos, boa tarde-boa tarde, e ela me pergunta se eu vi um garoto, assim e assado, entrando na igreja. Respondo afirmativamente que sim. Sou mais preciso: "Entrou aí há uns 10 minutos."
A velha faz uma cara de satisfação. Fala que Deus é a salvação do mundo, que nós devíamos temer a ele, que isso, que aquilo. Eu concordava com tudo o que ela dizia. Não realidade, não concordo. Mas no momento concordei porque não se trava prosa razoável sobre religião com uma senhora fanática; e mais: uma discussão naquele momento iria fazer com que ela permanecesse mais tempo no bar; e ela por ali era um perigo para o garotinho.
A senhora vai embora. Mando o menino voltar. Ele fica por ali na mesa, calado, observando sei lá o quê, enquanto eu tomo outra cerveja. Quando já fazia um bom tempo que a missa tinha acabado, adverti que fosse embora, para que sua vó não desconfiasse de nada. Antes ir embora, ele me diz que ouviu trechos da conversa, e me pergunta porque eu tinha feito aquilo. Eu respondi dizendo que esse negócio de igreja realmente já tinha enchido o saco.
Ele levanta, sai e me sorri. Eu sorrio de volta, um sorriso de cúmplice. Depois, sozinho na mesa, me pus a pensar como seria bom ter encontrado uma pessoa que fizesse o mesmo comigo quando eu era moleque. Quando eu era pequeno, minha vó e meus pais sabiam de todos os meus passos na igreja. A minha era uma rua só de delatores. Uma rua de dedos-duros.
terça-feira, 12 de julho de 2011
As Melhores Manchetes
Não sou editor, não vislumbro assinar um livro. E tendo em vista que todo espaço que me cabe, cabe aqui nessa lapela, compartilho com vocês algumas das tais manchetes.
A primeira, publicada no dia 20/04/2008: "Padre que voava pendurado em balões desaparece". Suspeito que Deus o tenha levado para junto de si.
Esta outra, do dia 26/07/2011, é da série 'Trepadas Mal Sucedidas':"Cão apavora clientes de motel".
No dia 08/07/2011, a humanidade conheceu métodos peculiares de proteção contra zumbis: "Manual contra zumbis é distribuído na Inglaterra". Esta, amigo(a), você tem que guardar para mostrar aos seus(uas) descendentes.
Em 11/06/2006, foi registrado o primeiro assalto de uma múmia:"'Múmia' rouba banco nos Estados Unidos". Habitantes do Egito e adjacências, todo cuidado é pouco.
E se alguém quiser casar com uma vaca? Não são modos, digamos, arrazoados. Mesmo assim, ora veja, que case! Mas estranho mesmo é pedir permissão: "Russo pede ao presidente para casar com vaca".
Esta aqui: "Banhista é surprendida com bezerro que caiu do céu". Me abstenho de qualquer comentário.
Qual o melhor lugar para comprar maconha? Por mais diferentes que sejam as possíveis respostas, não acredito que você tenha feito igual a nossa amiga: "Mulher tenta comprar maconha em delegacia".
E esta: "Homem consegue prever o futuro das pessoas pelas nádegas". Inusitada, não?
Esta aqui é da série "Pega essa promoção!": "Mulher compra videogame e recebe meias sujas".
Mas, tá bom. Chega! Com essa aqui eu me calo:"Defesa de acidentado diz que unicórnio dirigia".
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Se você, caro(a) leitor, chegou até aqui, ajude-nos também nesta singela coleção.
Os links de todas as manchetes citadas na crônica estão logo abaixo nos comentários.
segunda-feira, 27 de junho de 2011
Chamava-se Janecildestelita
De tudo isso, o mais impressionante era a capacidade que o pai da menina tinha em fazer contrações de nomes. Realmente impressionante!
Quando eu conheci Janecildestelita eu tinha 13 ou 14 catorzes anos, idade em que estamos ainda verdinhos, não sabemos o que queremos direito. Ela já tinha uma certa fama no interior de Pernambucano. Tocava sanfona e gaita, ao mesmo tempo, com uma habilidade incrível. Porém, o mais extraordinário era uma pessoa só, gozar de uma reputação só, mas com vários nomes.
Explico: aqueles que tinham mais afinidade com a mãe a chamavam de "Jana"; os que gostavam mais da primeira tia a apelidaram de "Necinha"; os partidários da segunda, de "Cildinha". As duas outras tias a chamavam de Jana. E assim ficava, uma pessoa, uma glória, e três nomes.
Lembrei da moça, e de sua inusitada história, porque a pouco tempo, através de notícias trazidas por minha vó, fiquei sabendo que a mulher faleceu. Morreu de pneumonia, coisa rara hoje em dia. Alguns dizem que foi maldição, olho grande, inveja. Mas deixemos isso de lado.
Como ia dizendo, lembrei da moça. Mais do que isso: lembrei de como toda a sua história me impressionava. Eu ficava boquiaberto com um nome tão grande, uma moça tão bonita, depois três nomes repartidos, um furdunço.
Mas como já foi dito, eu a conheci com 14 anos. Nessa idade, a gente ainda não tem "discernimento das coisas", como nas palavras de vovó. Não só isso, eu não sabia, por exemplo, que uma mulher impressionante, arrebatadora, dessas que deixam a gente de queixo caído, pode ter um nome curto, formado por apenas três letras e três sílabas, e se chamar Bárbara.
Apenas isso, bela e simples: Bárbara.
sexta-feira, 10 de junho de 2011
A Crônica
Tem que aquelas, sabe, que veem fáceis, na leveza do vento. Vamos pensar em escrevê-la, e, quando damos por nós outra vez, pronto, ela já está lá. Uma beleza de lirismo. Tá bom, exagerei. Mas fica bacana mesmo. Fica parecendo uma crônica de cajueiro ou de passarinho, como as de Rubem Braga, um rapaz que gostava de falar sobre essas coisas aparentemente frívolas. Mas digo, fica só parecendo mesmo, assim, bem de longe, e ainda contando uma boa dose de generosidade na crítica.
Outras, vilge maria!, são um aperreio. É tirar a gotinha do leite literário de uma pedra carrancuda. Puxa, rasga, prega, estica: - e o suor pingando da testa. Faz mais um pouquinho, briga com as palvras, e ela, acanhada, toma corpo, bem devagarinho. No final, é aquela coisa chocha, fraca, saco vazio não para em pé, narrativa tacanha, mesquinha.
Tem umas que eram só coisa corriqueira, notícia de jornal, que a gente teima em botar no papel e enhcer de floreios. Outras tantas, é para gente ler no ouvido da amante, como aquelas de Antônio Maria. Algumas vão nascendo com um pé na poesia, mas disse que é crônica, pronto, é crônica. Duvida? Leia "O Amor Acaba" de Paulo Mendes Campos.
Umas são meio meio conto, meio crônica, como 'A Vida Como Ela É..." de Nelson Rodrigues. Com outras a gente já aprende a meter carapuças no sujeito que passa na nossa frente, como as do Padre Lopes Gama. Já outras, como as de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, são de uma genialidade que você custa a crer que elas são de verdade.
Outras tantas, sabe, você tá me entendendo?, são de uma pobreza incrível, sabe, a gente vai escrevendo, uma crônica que fala sobre a crônica, escassez de assunto, ausência de um bom mote, sabe, você me entendeu?
domingo, 5 de junho de 2011
Filme Roliudiano
No bar, restaurante ou coisa de mesmo gênero, ninguém pedia, como os meros mortais, a conta, por favor, garçom! Bastava deixar o dinheiro na mesa ou no balcão, levantar e sair, sem se preocupar com o troco. O dinheiro, por sua vez, já constituia uma imensa facilidade. Bastava por a mão no bolso, e lá estavam as notas do dólar norte-americano, verdes, vibrantes. Era do bolso, também, que brotava o cigarro, sempre avulso, que o ator principal fumava. Fumar, no caso, dar dois tragos, lembrar-se de um problema colossal, largar o cigarro no chão, e partir.
Se havia algum grande esforço, ele era só aparente, a título de dramatização. Tudo corria leve, frouxo.
Ontem, havia um palco. Nele, uma banda que tocava invarialmente forró. Ao redor do palco, pessoas, muitas pessoas, barracas que vendiam comidas juninas, cerveja, refrigerante. A certa altura da festa, ouvem-se dois tiros. Uma pessoa havia sido assassinada. A banda para de tocar o forró, as pessoas param de dançar. Todos procuram, com os olhos, o local onde havia ocorrido o fato. Logo, no meio da multidão, passam dois homens, um carregando o outro, o outro, provavelmente, já morto. As pessoas se esticam, olham. O homem que carregava o outro homem some na multidão. A banda volta a tocar o forró, as pessoas voltam a dançar. Tudo muito fácil, muito simples. Ninguém perplexo. As pessoas comem, bebem, dançam.
Do morto, no local, só a mancha de sangue no chão. Mas ninguém mais se preocupava com isso. Isso, aliás, parecia que nem tinha ocorrido, de tão afiada que era a habilidade de não se deixar abalar por um homicídio.
E eu, sufocado pela alegria leviana,cheguei à conclusão óbvia: - a banalização da violência tem um 'quê' de fime roliudiano.
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Para Viver Mais
- E só viesse descobrir isso agora?, depois de seis anos fumando?
- Não, claro que não!, mas é que só hoje a ficha caiu...
- E vais parar mesmo?
- Vou! - Joga a bituca do cigarro pela janela do carro.
- Estou gostando de ver.
- Você vai gostar de ver quando eu tiver com 90 anos de idade, vou viver muito. Parei de fumar para viver mais.
Para aumentar a expectativa de vida, largou o tabaco. Quatro anos depois, toma um susto. Na final do campeonato, seu time leva um gol, de bicicleta, no finalzinho do segundo tempo, perdendo a partida e o título. A emoção foi grande, ele nao resistiu. Caiu no chão com a mão no peito, e pensou: - como seria bom um último cigarro antes de partir.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Balada de Glorfindon
Não tem muito haver com o poema, mas é uma imagem legal |
sábado, 21 de maio de 2011
Um Lugar para Chamar de Seu
Nem sempre a saída é compulsória, ânimos que se agitam, estopim que resulta com um dos lados (quase sempre o do filho) de mala feita, a caminho sabe-se lá de onde. Às vezes, e é bom que seja assim, é só mais um cilco da vida que se encerra, e outro que se inicia. As lágrimas que despencam dos olhos tristes são de uma saudade antecipada, temperadas apenas com uma dose de possessividade das mães para com suas crias.
E nós sabemos que a autonomia e a liberdade são duas moças muito aprazíveis, mas a acompanha uma senhora um tanto exigente chamada responsabilidade. Porque vai chegar a hora que irão tocar a sua campanhia pedindo para falar com o(a) dono(a) da casa, e você vai ter que dizer:"Sou eu!".
Mas isso a gente aprende, nem que seja através de martelada. Por que a vida, viu, é assim: enquanto a gente não morre, a gente aprende.
Ponderações (necessárias) à parte, você há de convir o quão bonito é um filho que se emancipa, que, como diziam nossas mães, com licença Dona Betânia, tornam-se donos(as) dos seus narizes.
Eu na casa de um amigo, pego um cigarro e vou me dirigindo lentamente até a porta, quando sou interrompido:
- Pode ficar aí, camarada, a casa é minha.
Foi uma das coisas mais belas que já ouvi.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
As Comportas Se Abriu, Laiá lalaiá
Era fim de expediente, eu já me dava como 'largado', e estava no computador, gerenciando as minhas mil redes sociais. No facebook, vejo o aviso no mural de vários amigos: "A UFPE cancela as aulas da noite" ou "Não haverá aulas na UFPE hoje", ou qualquer coisa que o valha.
Até então, não sabia dos motivos, mas desconfiava que fosse por causa da chuva. Achei muito estranho, pois aquele era o dia que menos tinha chovido naquela semana. Mas tudo bem, quero nem saber, vou embora para casa, foi o que eu pensei.
Chego na parada, acendo um cigarro, compro uma 'jujuba', mas o ônibus demora. Rapidamente, começo a ouvir os comentários:"Vai dar cheia e esse ônibus não chega!".
Como o ônibus insistisse em não chegar, resolvi ir até o meu querido prédio, o CFCH.
No caminho, pessoas correndo, aflitas, carros saindo às pressas. Apenas para me certificar, pergunto a uma moça que passava correndo, de longe:"Vai ter aula hoje?", ela responde:"Foi cancelaaado, vem água aí!".
Continuo andando, perto do CAC, um gringo em pânico me diz com um português arrastado:"As comportas se abriu!". Eu me finjo de espantado:"Com'é que é?", ele responde, já distante:"Tapacurá! Tapacurá!".
Pronto, já sabia o que estava acontecendo. Uma reedição do que ocorreu em 1975, época em que eu não era nem nascido, quando se espalhou por toda a cidade o boato de que a barragem de Tapacurá tinha se rompido. Dessa vez, versão 2011, eras as comportas que tinham sido abertas. As comportas da barragem de Tapacurá que, pasmem, nem comportas tem.
No DA de Ciências Sociais um informativo criativo:"Leilão do DACS cancelado por motivos aquáticos". Ri à beça, enquanto resolvia com Frances, Bruna e Berlano para qual bar iríamos. Nesse momento, Kleiber já nem podia subir no prédio "por determinação do reitor".
Minha mãe me liga e tasca a frase clássica, ouvida por tanta gente naquele dia:"Meu filho, você tá aonde?". Disse onde estava, que iria demorar um pouco para chegar, mas que tudo estava tranquilo, que ela nem precisava esquentar a cabeça. Mas ela continuou aflita, nervosa, falando dez palavras por segundo, aí eu tive que usar a tática do 'Relaxa, mãe'. Repeti "Relaxa, mãe" umas cem vezes, até ela desligar o telefone na minha cara.
Vou para o bar, bebo uma cerveja não muito boa, mas que quebra o galho, jogo dominó, ganho várias partidas com minha companheira Frances, mas levo duas buchudas de Kleiber. Tô engasgado até agora. Ruivo, se ligue, tem volta.
No final da noite, volto para casa chateado por não ter dinheiro para ir ver Odair José e Reginaldo Rossi no Festival da Seresta, mas tranquilo, espalhado num ônibus vazio, contente por não ter pego engarrafamento, parodiando Chico Buarque:
"Hoje as comportas se abriu, laiá lalalaiá"
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Como uma Pétala
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Três Pães de Queijo
Em dia bom, papai e mamãe folgados financeiramente falando, eu comia um. Apenas um pão de queijo. O que, saliente-se, era muito triste! Eu não sabia o que era pior, não subir naquele banco redondo da lanchonete, que era o que corriqueiramente acontecia, pois eu estava sempre sem grana para os ditos três pães, ou subir e descer rapidamente, comendo apenas um, não gozando plenamente da minha glória. Coito interrompido, ora pois.
Alimentei esse meu 'complexo de vira-latas' por um bom tempo.
Alguns anos depois, quando eu já havia deixado a escola, resolvi que era o momento de matar meu desejo de uma vez por todas. Suei mais do que o marcador de Messi, se a paráfrase atualizada com o grande Sérgio Porto é válida, para conseguir separar um trocado para o três pães de queijo. Ganhava uma merreca como estagiário, vivia com a corda no pescoço.
Mas me organizei, guardei o dinheiro e fui lá. Cheguei seguro de mim, confiante na vitória, me espalhei no banco, sorriso que alcançava as duas orelhas, enchi a boca e disse:
- Três pães de queijo, e uma coca para acompanhar. Por favor.
- A gente não vende isso mais não! Esse pão seboso e remoso não tava dando mais lucro!
A respota da dona da lanchonete abalou meu coração. Com toda certeza, eu seria uma pessoa mais feliz se tivesse comido os três pães de queijo.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
A Serventia dos Livros
No pequeno vilarejo, muito antigo, o tempo parecia que havia estancado. Avanço das ciências não se encontrava por ali. Tudo o que se tinha, fora conseguido dois meses antes, numa das pescarias coletivas para alimentar as famílias do local, onde encontrou-se uma caixa cheia de livros. A caixa que Marco Aurélio empunhava.
Marco Aurélio, sabe-se lá como, conseguia entender o que estava escrito naqueles livros. Durante as duas primeiras semanas, não dormiu. Dedicou-se aos livros, devorou-os todos. Logo após, isso, claro, depois de seu descanso de quatro dias ininterruptos, iniciou algumas obras no vilarejo, com o conhecimento adquirido dos livros.
Ninguém precisava mais andar até o rio se precisasse de água, agora tinham um poço ao alcance da vista; as comidas não era mais estragadas, tinham um novo método de conserva; as roupas não eram mais trapos pesados e sujos, mas tinham uma corte que, ao mesmo tempo que facilitavam os movimentos, também não deixavam que fossem acometidos pelo frio; os intrumentos de caça e pesca já não eram rústicos, eram mais afiados e resistentes; dentre outras coisas que tornava a vida menos difícil.
Em pouquíssimo tempo, o vilarejo era outro. As casas eram de alvenaria, e não mais de palha. As ruas eram calçadas e numeradas, existiam cercas, barcos grandes e resistentes, o plantio de legumes e verduras. Tudo estava mudado, e todos agradeciam o empenho de Marco Aurélio.
Marco Aurélio agradecia, o clima era amistoso.
Porém tudo isso viria abaixo em pouco tempo. O vilarejo fora acometido por um desses grandes desastres naturais. Nada restou em pé naquele lugar, nem a autoestima daquele povo. Com tudo destruído, não sabiam como iriam sobreviver. A todo instante, em pânico ou não, pediam ajuda a Marco Aurélio. E este, já não sabia mais o que fazer.
Numa das noites mais frias, Marco solta pela primeira vez em muito tempo a sua caixa de livros. Os apruma bem no meio da roda de pessoas, tira um líquido inflamável do bolso e toca fogo nos livros.
- É só para isso que os livros servem!
Foi o que exclamou Marco Aurélio, antes de morrer de frio como metade do vilarejo.
domingo, 17 de abril de 2011
Pra não dizer que não falei das flores
Das flores, eu pouco sabia. Sabia apenas que estavam ali, e que enfeitavam um canto da sala antes inerte. Minha pequena, a todo instante, porém sem palavras, me insinuava a presença das flores. Como se quisesse que eu constatasse explicitamente, leia-se oralmente, a presença do que já era, por si só, latente. E passeava para cá, para lá, sempre na frente das flores. Buscava coisas, objetos, quase sempre sem motivo, e sempre perto das flores.
Não notar as flores, naquele momento, era não notar ela.
Na momento da despedida, com a porta quase fechada, eu me viro e digo:
- Muito bonitas as flores ali do canto da sala.
Por favor, não me apregoem Geraldos, Vandrés, ou hinos fraternos de apelos a uma revolução política.
Eu falei das flores. E apenas pra não dizer que não falei das flores.
sábado, 16 de abril de 2011
Aquilo
Chega de fugas e evasões sem sentido: silenciar junto com uma mata verde apenas tranquiliza, não soluciona. Drogas & narcóticos outros tão somente entorpecem, não resolvem. E nem se fale em práticas medititativas copiadas tais e quais receitas de bolo!
E não são lícitas, aqui, metáforas literárias previsíveis: "vida opaca" e "mundo cinza" não contemplam uma vida chorosa num quarto fechado e frio.
Naquele instante, agarrada a uma fotografia, ela chorou e soluçou aquilo. Aquilo que ela nem sabe o quê.
terça-feira, 12 de abril de 2011
A Vida Continua Triste
Por aquilo, entenda-se a troca que Gabriela fez: deixou ele para ficar com um "infeliz", como Roberto o definia.
O "infeliz", dizia-me o desiludido, não faz café da manhã para ela, não escreve poemas, não compra bolo de chocolate, não manda torpedo sms pela manhã para alegrar o dia, não vai almoçar com sua tia chata. "Nenhuma qualidade", conclui Roberto. Não perguntei, mas, decerto, o "infeliz" também não sabia nada sobre esperanto.
"A vida tem dessas coisas, Roberto, fica tranqüilo", disse eu. "Isso não serve de consolo!", respondeu-me com voz trêmula. Um sopro e ele se desmanchava em choro.
Roberto estava certo, o que eu disse não servia de consolo. Na realidade, naquele momento, nenhuma palavra serviria de consolo. A cerveja que o embriagava era mais solidária do que as minhas palavras, ora pois. Para que falar numa situação daquelas? Tudo o que Roberto precisava ele tinha naquele momento: cigarro, álcool e alguém que ouvisse suas lamentações.
Eu me resignei ao meu silêncio cada vez mais. Um silêncio companheiro, de quem sofre junto. E me pus a pensar que, dos dias de Sizenando até hoje, passaram-se mais de cinquenta anos. E nada mudou: a vida continua triste.
Muito triste, Roberto.
sábado, 9 de abril de 2011
No refrão da Canção para o Oceano
O bardo dedilha sua harpa.
Cordas de ouro expandem a música.
Uma canção de ninar para o oceano.
Um poema para acalmar o espírito melancólico.
Em cada nota de sua música milenar.
De minhas poesias posso lembrar.
O sorriso que outrora tive.
uma memória agora húmida e triste.
No refrão da canção para o oceano.
Eu entrego a tempestade da minha alma.
No movimento pendular das ondas prateadas.
Eu deixo a melodia velar meu pranto.
No refrão da canção para o oceano
Os meus versos embalam meu sono.
Uma fuga do triste outono.
Uma busca à primavera inalcançável.
O bardo que toca a harpa dourada.
Talvez em meio as eras futuras e passadas
Seja um fantasma de minhas lúgubres lágrimas.
A expressão da ausência de minha fada.
E sua música doce a minha desolação.
O grande oceano o indomável coração.
A caixinha de segredos e mentiras.
do pequeno garoto coroado com estrelas sem vida
No refrão da canção para o oceano.
Repousa um mistério milenar.
Uma poesia silenciosa.
Uma paixão à deriva.
Cordas de ouro expandem a música.
Uma canção de ninar para o oceano.
Um poema para acalmar o espírito melancólico.
Em cada nota de sua música milenar.
De minhas poesias posso lembrar.
O sorriso que outrora tive.
uma memória agora húmida e triste.
No refrão da canção para o oceano.
Eu entrego a tempestade da minha alma.
No movimento pendular das ondas prateadas.
Eu deixo a melodia velar meu pranto.
No refrão da canção para o oceano
Os meus versos embalam meu sono.
Uma fuga do triste outono.
Uma busca à primavera inalcançável.
O bardo que toca a harpa dourada.
Talvez em meio as eras futuras e passadas
Seja um fantasma de minhas lúgubres lágrimas.
A expressão da ausência de minha fada.
E sua música doce a minha desolação.
O grande oceano o indomável coração.
A caixinha de segredos e mentiras.
do pequeno garoto coroado com estrelas sem vida
No refrão da canção para o oceano.
Repousa um mistério milenar.
Uma poesia silenciosa.
Uma paixão à deriva.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
a foto
terça-feira, 5 de abril de 2011
meu amor
e eu agradeço.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Histórias de Grandeza e de Miséria 7: Poetar é fácil...
Moral da história: poetar é fácil, difícil é ser gente.
sábado, 2 de abril de 2011
Eros( por falta de título melhor :P)
EROS
Abrace meu corpo nu.
Unidos seremos como uma constelação
Brilhantes nas profundidades da escuridão
Amantes imersos em sonhos
No arrepiar de nossos corpos
As almas se beijarão
No fluir dos selvagens sentimentos
Os espíritos se possuirão.
Os anjos testemunham as bocas
O tocar dos nosso lábios sem culpa
Enquanto as inocências são guardadas
No silêncio saboroso das palavras
Casta virgindade revelada.
Morre a virgem e a criança
No palpitar do seio excitado
No beijo do poeta acalorado
terça-feira, 29 de março de 2011
O Livro
Mas, com a licença da palavra, não ligo se ela lhe fere os ouvidos: foda-se! Gosto mesmo do livro, e pronto, fica por isso mesmo.
Afogo o rosto naquelas páginas amareladas. Sedento, vou iniciar mais uma releitura, e a alegria de saber a belezura que vou encontrar ali toma conta de mim: pareço um cachorro impaciente saciando sua fome.
Folheio o livro, rapidamente, da primeira à última página, de modo a projetar um vento leve nas minhas fuças. Aquilo que aspiro não é simplesmente odor de tinta e papel de uma corriqueira máquina gutemberguiana, é o perfume das palavras devidamente escolhidas e ajustadas, justapostas, trabalho ourivesco, coisa mais linda!
Agora contraio o livro contra o peito: preparo a mim e a ele para mais um sessão de rabiscos, grifos, marcações, anotações. Ou melhor: - preparo-nos para o início de nosso diálogo.
Ainda de olhos fechados imagino o contentamento do autor se soubesse desse meu namoro com a sua cria, sua obra-prima!
E, de repente, chego à conclusão: quando um leitor disseca um livro, não com os olhos atentos da leitura, mas com nariz, boca, face toda e mãos, aí sim podemos dizer: - eis a maior glória de um escriba!
domingo, 27 de março de 2011
Uma Noite Redundante
Mais uma sexta-feira, mais um começo de começo de noite. E só. Nada a mais que isso. As mesmas pessoas circulam, com as mesmas aspirações, os mesmo anseios, as mesmas lamentações, as mesmas frustrações. Nada surpreende, salvo a mesmice, o marasmo. Isso sim é que surpreende!
Chato, se você acha que é o adjetivo mais apropriado. De saco cheio, se era a expressão que você queria ouvir.
Nem a minha pequena, reparem bem, estava comigo. Aonde ela estará? Quem sabe. Queria mesmo era tê-la aqui, para esquentar suas orelhas frias com segredos de liquidificador, de centrífuga, ou batedeira. Não importa. Eis o que importa: o sussurro, o ato, a devoção. De quem se joga, mas com sinceridade.
A caminho de mais um bar, à procura de uma cerveja gelada, o maior dos prêmios, eu e Valmir caminhávamos atrás de Renato e sua namorada. Valmir graceja: "Quando um casal anda sacudindo as mãos é sinal de amor". "Se é amor, logo logo chegará um filho, um pimpolho", digo eu, pra completar a pilhéria.
Renato olha para atrás em sinal de reprovação. Mas continuo: "Vocês já imaginaram o filho de Renato? Ele, o garotinho, com três anos, em casa, ouvindo música Romântica, Allegretto Non Troppo, sai do quarto em direção à sala e diz:
'- Papai, estou sentindo um mal-estar.'
Renato, prepocupadíssimo, logo acudiria apalpando o toráx do garoto:
'- Mal-estar? Aonde, meu filho? Diga!'
E o menino responderia:
'- Na civilização, papai.'
Numa noite redundante, com mais, muito mais do mesmo, no Bar de Dona Irene (e não, minha gente, a piada caetaneana previsível não cabe aqui, pois Dona Irene não ri) o hipotético filho de Renato foi o que de melhor aconteceu.
sábado, 19 de março de 2011
Vamos Alice
Um grande Abraço
Ass: Ávaro O Bardo
Vamos Alice !
Entre as terras do pais das maravilhas.
Para encontrar o lírio violeta.
O meu presente para minha princesa.
Alice me guie entre a floresta sussurrante.
Um presente espera Liriel, a minha amante.
Para salvar nossa paixão do feiticeiro azul.
E perpetuar a paz nos campos do sul.
Toque em minha mão Alice.
E asas conceda-me.
Para entre as brumas mágicas.
Eu encontrar a rubra jóia.
Vamos Alice eu quero ver os elfos.
Ir até Valfenda encontrar o sábio eterno.
Traduzir as estrelas da noite.
Levar a salvação para a minha amante.
Alice é vasta a fantasia de suas terras.
Um presente para uma alma melancólica.
A salvação para minha certa derrota.
O elisio do artefato que me dará a vitoria.
Batize-me com pó de estrelas.
E eu voarei até elas.
Para entre os véus do universo.
Achar a salvação para meu sentimento.
Vamos Alice preciso caminhar entre estes campos.
Para encontrar o farol que salva sonhos.
Vamos Alice, pois Liriel espera.
O meu amor, sua salvação , minha presença.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Parada Carnavalesca
segunda-feira, 7 de março de 2011
terça-feira, 1 de março de 2011
Frances, seja bem-vinda!
Introduzo com essa passagem de Nelson, para dizer isto: eu iria começar esta crônica afirmando veementemente, por vezes melancolicamente, que eu estava solitário neste blogue. Da mesma forma, também não estaria sendo de todo coerente. Eu reavivei este espaço a pouquíssimo tempo, alegar um solidão agora seria muito precoce, talvez risível. Muito menos, fazendo isso, iria deixar mais triunfal a estréia de Frances neste endereço. Ela já o é, aliás, o será, porque a moça ainda não fez sua primeira postagem. E o seria em qualquer outra situação. Em suma: elas se bastam. As duas: Frances e sua futura estréia.
Bem me lembro, há um incerto tempo atrás, de uma das mesas de boteco que eu e outros ociólogos compartillhávamos. Neste dia, em especial, aflorando várias e alegres afinidades entre os bebentes da mesa, vi Frances dar um salto de sua cadeira, bater com força na mesa, e dizer, melhor, gritar:"Porra, por que é que eu não conheci vocês antes?!". Eis aqui o que importa dizer sobre solidão: naquele momento, Frances estabeleceu um linha: antes de nos conhecermos, depois de nos conhecermos. Antes, estávmos sozinhos; agora, não. Naquele instante, por causa daquilo que Frances disse, e somente por causa daquilo, eu me pus ditoso e jucundo; risonho e feliz. Por causa de Frances eu não me sentia solitário.
Frances, seja bem-vinda!
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Histórias de Grandeza e de Miséria 6: Quando ele fecha...
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Histórias de Grandeza e de Miséria 5: A bola
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Mário, Fi D'uma Égua, A Culpa é Tua!
"Isso é cultura, bicho!", a bela vai dizendo.
E quem causou esse mal todo foi o Dotô Mário de Andrade. Com essa história de "realizar o Brasil", o cabra-véi embalsamou a cultura popular, colocou-a no pedestal, e a classe média vai lá reverenciá-la, expiar a culpa.
Coisa mais linda, né, o Parraxaxá, aquele restaurante com "comidas típicas". A dona moça, que é meio intelectual, meio de esquerda, né não Antônio Prata?, vai lá, levar o amiguinho turista, mostrar a comida que revela "a identidade da região". Show de exotique. Safari em Hellcife.
Minha senhora, quem come cuzcuz não precisa arrogar para si o tempo todo que isso é sua cultura. Ela o é, pronto. O cabra sai de manhã cedinho pra guentar a ôia, enche a barriga de cucuz com charque, e segue firme (até dar a hora do almoço, claro). Ele não carece de resgatar a autenticidade, madame, a autenticidade é ele próprio, se era que isso a sinhora queria saber.
Enquanto teclo essas mal traçadas linhas, a moça que mora numa daquela torres em BV Beach, convida:"Ei, vamo naquele boteco que vende aquela macaxeira delicioooosa?!"
Mário, fi d'uma égua, a culpa é tua!
Flagrantes de Mulher 4: O andar
domingo, 20 de fevereiro de 2011
A Chuva
Mas é inútil. A água da chuva leva a si mesma e leva o que não tem força para ficar. Leva a folha da mangueira, a ponta do cigarro, dois sonhos, uma ou outra verdade. Depois que passa a chuva, muitas coisas ficam. Poderão ir na próxima remessa de água que cair do céu, mas ficam.
Eu considerei que a limpeza que a chuva faz nas ruas é igual à seleção de lembraças que o cérebro faz em nossa memória. Algumas coisas, talvez por desuso, se perdem em nossas recordações, são levadas pela água, não voltam jamais.
Eu considerei também que o que aconteceu entre mim e ela era suficientemente forte para ficar, resistir às chuvas. Ela, que nem sabe da existência desse blogue. Nem dessas lamentações em forma de crônica. Mas imaginemos que ela, por um acaso, achasse esse endereço perdido nos confins do ciberespaço.
Talvez sorrisse, se emocionasse, lembrasse dos lindos momentos que passamos juntos.
Talvez não.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Por Um Gerundismo Mais Doce
Queremos sim, estimada leitora, um gerúndio que soe mais gostoso na prosódia nossa de cada dia. O gerúndio suave, palatável, amaciado pela oralidade popular; linguagem coloquial, como queira.
'Gerúndio com 'd'? Nem fudeno!', é frase mãe, o brado de nosso protesto em prol do da língua certa do povo, o povo que fala gostoso o português do Brasil, como nos soprou o mestre Bandeira, quando evocou o Recife. Vê como fica mais fácil e prazeroso: correno, leno, fumano, jogano, trepano, amano, chorano, bebeno, acariciano, brincano... É ou não é?
Chega de picaretagem classe média 'mui culta', pronúncia bonitinha e correta como manda o figurino, como o ordena o chato do Pasquale. É assim que queremos hablar! Apetecendo a vós, querida leitora, até mesmo Rosano, alcunha de batismo deste que vos fala, mudaria de classe de palavra: deixaria de ser um nome próprio para ser, também, um gerúndio. Veja que coisa mais linda!
Adianto que não serão benquistas ressalvas em contrário. Alguém não se agradando, pode marcar hora e local, com cerveja na mesa, claro, que nós colocaremos os pingos 'is', já que a Dona Arrogante Norma Culta, a mesma que põe obstáculos à nossa manifestação, nos impede agora de assentar os tremas nos 'us'.
E ficamos por aqui, porque já vai mui grande esta pobre crônica.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Flagrantes de Mulher 3: Papel de Puta
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Histórias de Grandeza e de Miséria 4: De Pai para Filho e de Filho para Pai
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Um crônica ranzina, sobre um domingo ranzinza
Fiquei triste, amuado, cabisbaixo, com cara de poucos amigos. Abandonei, ou ela me abandonou, a alegria que comumente me acompanha. Não fiz gracejos com a leve embriaguez de um amigo meu, não ri do escorregão do outro, abdiquei da oportunidade de contar alguma piada. Sisudo até o talo, era capaz de fuzilar alguém só com o olhar. Não sei, exatamente, o que me abateu. De tudo isso, posso chegar a uma única conclusão: até a alegria tira férias.
Fui para casa ainda melancólico. Esperava uma ligação, um torpedo, um e-mail, um sinal de fogo, amigo!, dela. Mas nada veio. E eu fiquei a mascar o gengibre da desesperança. Um dia após, já curado da minha 'doença da chatice', ponderei, e achei até melhor não ter recebido nada dela. Na situação em que eu me encontrava, corria o risco de dar uma dimensão exagerada a uma atitude trivial, me entendes?
Porém, depois de ditas tantas amenidades, poderás vós me perguntar, de que me interessa tua ressaca, a derrota de teu time, tua chatice, a ausência de tua donzela?, que importância tem isso? E eu vos direi muito sinceramente: nenhuma. Eu não sou um daqueles cabras iluminados que tem a faculdade de contar belas histórias, tal qual Ernest Hemingway em O Velho e O Mar, menos ainda de dar-lhes importância. O que faço, e ainda assim muito mal, é contá-las.
Contudo, e aqui também com toda a sinceridade que me é lícita, digo: deixe de ser folgado, acomodado, preguiçoso. Arrumai vós uma importância para esta pobre história. Ou eu haverei de fazer tudo sozinho?
Pois bem, assim ficamos então combinados: eu conto as histórias, vocês lhe atribuem alguma importância.